20080408

Nanotecnologias no Minho

Os Cientistas do mundo do invisível também falam português. Ferramentas e técnicas não observáveis a olho nu estão a invadir os dispositivos médicos, a electrónica, o têxtil, o automóvel, a energia, a embalagem e a cerâmica. A Universidade do Minho é um dos pólos de vanguarda na área dos materiais do futuro.

Com o lançamento da primeira pedra do futuro Laboratório Internacional de Nanotecnologia no centro de Braga, aquando da última cimeira luso-espanhola agora em Janeiro, o novo palavrão técnico começou a ter honras nos "media".

Nanotecnologias significa técnicas e ferramentas a uma escala nano (mil milhões mais pequena que a unidade de medida, o metro), que, é claro, não se vê, a olho nu - cerca de novecentas vezes mais pequena que um cabelo humano!

Algo inimaginável para o cidadão comum, mas a que as gerações do século XXI se irão familiarizar em áreas tão distintas como os dispositivos biomédicos, os tecidos inteligentes, os novos revestimentos cerâmicos, os novos materiais para o automóvel, novos processadores para a informática, um novo tipo de painéis solares com células ultra-flexíveis, a simples embalagem ultrafina ou a obtenção de energia a partir de diferenças de temperatura que, por exemplo, alimentem o seu relógio de pulso.

É uma área emergente em Portugal no investimento de projectos envolvendo cientistas e algumas empresas, e despoletando inclusive a criação de "spin-offs" de investigadores e alunos de doutoramento. A Universidade do Minho (UM) é uma das traves desta nova estratégia, prevendo um investimento total entre 2005 e 2008 na ordem dos 16 milhões de euros em projectos já em curso, refere-nos Manuel Mota, um dos históricos da biotecnologia portuguesa, vice-reitor desta universidade que tem um desenho bicéfalo, com dois "campus", um em Braga e outro em Guimarães.

Fertilização cruzada

A atracção pela nanotecnologia está a provocar um 'casamento' duradouro entre físicos e químicos, e a permitir a áreas como a microelectrónica, a biotecnologia ou a ciência dos polímeros migrar para novas oportunidades de investigação científica e aplicações empresariais. Os cientistas chamam-lhe "fertilização cruzada" entre diferentes abordagens, o que leva o físico João Pedro Alpuim, de 50 anos, um dos envolvidos numa nova geração de células fotovoltaicas que se podem dobrar com os dedos, a acreditar, entusiasmado, "na hipótese de tecnologias disruptivas", que, como o próprio nome indica, provocarão uma nova revolução tecnológica.

Por isso, abundam, naturalmente nos corredores da academia e de algumas empresas mais ousadas, os "projectos futuristas mas não de ficção" - como frisa José António Covas, de 51 anos, um especialista do Instituto de Polímeros e Compósitos, envolvido em projectos que vão desde as fibras têxteis "carregadas de tecnologia" a materiais nanoestruturados aplicáveis eventualmente aos aviões-espiões, o que é matéria classificada.

Tal como a genómica ou a clonagem humanas, esta é uma das áreas que está a empolgar a comunidade científica particularmente ligada à indústria. O físico Mikail Vasilevskiy, de 47 anos, um russo radicado há 11 anos na UM, chama a atenção para um dos materiais "invisíveis" recentemente descobertos, o grafeno (ver caixa), isolado a partir da grafite.

Dos nanotubos às nanomalas

Uma das áreas de aplicação destas tecnologias do invisível mais em destaque hoje em dia é a biomedicina.

José Higino Correia, de 43 anos, um especialista em microelectrónica industrial, na vanguarda da criação de dispositivos (com o formato de uma touca de banho ou de um boné) com eléctrodos para analisar as ondas cerebrais, vai 'fabricar', com colegas do Porto e de Espanha, um micro-sistema neuronal com nanotubos de carbono que possa ser implantado no cérebro sem riscos e sem grande aparato externo (ver fotografia). A aplicação no diagnóstico e monitorização de doenças neurodegenerativas (por exemplo, Parkinson, epilepsia e Alzheimer) é óbvia.

Por seu lado, o biotecnólogo Miguel Gama, de 44 anos, espera, a partir de celulose produzida por bactérias (diferente da celulose vegetal, usada na fabricação de papel), criar vasos sanguíneos artificiais, de baixo calibre, que estarão em testes em animais em 2009.

Finalmente, Rui Reis, de 40 anos, desenvolve com a sua equipa o que ele chama, por piada, de "malas", uma espécie de nanopartículas injectáveis no corpo do paciente, carregadas com um determinado fármaco, que "só se abrem, como uma mala, e descarregam o que levam, quando encontram o alvo".

Por Jorge Nascimento Rodrigues.

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