20071119

Miguel Torga e o Alto Minho

Miguel Torga não gostaria muito do Minho. Achava-o monótono no seu verde - o verde da paisagem, do vinho e até do caldo. Porque amo os dois custa-me tê-los separados. Como eu gostaria que Torga tivesse sentido os mil diferentes verdes que o Alto Minho me ofereceu num destes dias de sol. Que harmonia. Que concerto em tom único. Irmanei-me neste sentimento com o pequeno grupo que acompanhei num périplo minhoto, todos provenientes de diferentes nacionalidades e todos rendidos ao todo que sentiam.

É um facto. Os centros históricos das nossas vilas e cidades são expositores de bom gosto e do bom senso que deve presidir à união da cultura, do património e dos dias que somos. Os monumentos estão preservados com esmero. Os equipamentos, do mobiliário público aos estabelecimentos, revelam enquadramento e modernidade. Sente-se profissionalismo e qualidade no atendimento que tanta falta fazia à tradicional simpatia. Nos arrabaldes comprova-se um urbanismo sensato e respira-se qualidade.

Estão de parabéns o poder local e os autarcas - os que são e os que foram. Souberam ser guardiões da nossa cultura e identidade, sem travar a alma dos dias que vão correndo. Estamos todos de parabéns.

O Alto Minho está bonito. E agora? De que vão viver as nossas pessoas neste Alto Minho, assim bonito, mas onde a riqueza e o emprego estão longe da suficiência e da qualidade? O Alto Minho não pode perder mais do melhor do seu património - as pessoas. Atrair e fixar pessoas é a próxima e grande cruzada da qual ninguém está fora. Há já muito feito mas há, sobretudo, muito por fazer.

A nossa agenda terá, agora, de estar centrada na produção de riqueza pela potenciação do mundo empresarial e pela eficaz coordenação política do processo. Temos de estancar a fuga de jovens que nos últimos anos concluem as suas formações superiores nas várias instituições de ensino superior do Alto Minho, públicas e privadas (cerca dum milhar), na sua maioria oriundos da região, os quais, finda a formação, cumprem o "fado" rumando ao país e ao estrangeiro em busca do emprego, enquanto empresas que pretendem fixar-se por cá se queixam de não encontrarem mão-de-obra qualificada. Temos de o equacionar porque este é um problema.

Tenho feito desta crónica um espaço onde se cuida a auto-estima e o prenúncio da mudança construtiva. A inauguração da primeira fábrica ENERCON em Viana do Castelo, presidida pelo Senhor Primeiro-Ministro, no dia 15; o lançamento da primeira pedra de uma outra fábrica da mesma empresa, dum total de 8, construindo o primeiro e verdadeiro cluster regional; a magnitude e excelência da construção e o elevado nível da tecnologia usada; o diminuto impacte ambiental; os 1800 postos de trabalho directos e milhares de indirectos; a atracção de empresas satélites e a criação de toda uma dinâmica económica envolvente, incluindo a exportação da maioria da produção, são, a meu ver, a confirmação da mudança. Deixo de lado, neste corredor de análise, as energias renováveis, o seu sentido de futuro e a previsão de, em 2010, 45% da energia eléctrica gasta em Portugal provir de energias renováveis.

A criação de um grande Centro de Empreendedorismo nos Arcos de Valdevez, com a VALIMAR, Câmara dos Arcos, CEVAL, Instituto Politécnico e outros e a construção de uma grande Plataforma Logística em Valença, são mais alguns dos sinais da mudança. Construamos o querer e a vontade de integrar, potenciar e desenvolver tudo isto e teremos riqueza para distribuir pelos minhotos e por aqueles que tiverem o bom gosto de escolherem esta terra para respirarem à luz de um novo fado - o do desenvolvimento da nossa região.

Rui Teixeira, professor no IPVC (jn de hoje)

Muito sinceramente, gostava muito que o Alto Minho conseguisse segurar as suas gentes, nomeadamente, as mais jovens, e ainda mais especificamente a mim.
Como disse aqui num comment, arranjei emprego em Lisboa. Depois de ter enviado quase 60 curriculos (a maioria deles no Norte de Portugal e Galiza), depois de ter andado a penar a mostrar o meu projecto final sobre a Plataforma Logística de Valença às entidades competentes e aos autarcas, sou chamado para o LNEC, para trabalhar sobre um concelho algarvio.

Mais triste é ir ao domingo á noite para Lisboa num autocarro completamente cheio seguido doutro nas mesmas condições, ou ir a um jantar, na baixa pombalina, de pessoal de Vila Praia de Ancora e a sala estar cheia de gente...

8 comentários:

  1. Muitos parabens Salem ! Excelente post, pelo significado que tem. Já passei pelo mesmo trabalhei cerca de ano e meio em Lisboa e durante muitos anos tive reuniões de trabalho com clientes de Lisboa e sei do que relata.

    A minha defesa do Norte tem precisamente a ver com isto. Não há mercado de trabalho cá. Em LX a administração cetral trata que haja, absorvendo assim os jovens de todo o país, valorizando as propriedades e negócios deles, desvalorizando as nossas. É por isso que eu luto. Quer você regresse ou fique por Lisboa, não o censuro se o fizer, espero que perceba antão a minha causa. Felicidades.

    PS: Continuo a contar com a sua colaboração no Norteamos.

    ResponderEliminar
  2. Muito obrigado..
    Claro que anseio voltar e vou fazer por isso, mas aconteça o que acontecer tenho sempre o Norte, nomeadamente Viana e Guimarães no coração, pelo que a minha participação no Norteamos nunca vai ser posta em causa,seja com posts ou com comments.

    ResponderEliminar
  3. Caro,

    Vai, mas tem de voltar. Mas aproveite enquanto aí está, e se necessário fique mais algum tempo.

    Aprofunde a seu network. Este é um país muito pequeno. É preciso ter uma rede de relações a nível nacional, se queremos ter chances de sucesso.

    (E não, não estou a falar de cunhas. Se alguém não perceber o que digo, estude o fenómeno "silicon valley": a inovação como resultado da interação entre pessoas muito capazes, e com elevada rotação entre empresas. Mais network = mais circulação = mais inovação / velocidade na economia = desenvolvimento económico).

    E quanto ao centralismo, irá concerteza ganhar uma nova visão. Normalmente, ganha-se uma visão mais moderada, mas também mais crítica e mais fundamentada.

    Boa sorte : )

    Nota: parece-me que o norte terá uma vantagem forte no futuro, baseada nos talentos que saem para o resto do país e estrangeiro e depois voltam. O nosso conhecimento do mercado nacional e global torna-se assim superior.

    ResponderEliminar
  4. É verdade Pedro,

    Porém o pay-out é reduzido. A maioria fica. Nã tenho contra migrações internas ou externas temporárias ou definitivas, decididas individualmento. Critico sim severamente a «deportação» pela calada organizada pelo estado central para beneficiar apenas alguns imobiliários com «networking» na administração central.

    ResponderEliminar
  5. Eu. Só estou a dizê-lo que temos de usar isso a nosso favor. Temos de convencer as pessoas qualificadas a voltar.

    ResponderEliminar
  6. Pedro,

    Salem e todos os que migram/migraram para Lisboa por falta de alternativas são vítimas do networking dos operadores imobiliários que orbitam a administração central. Isto é que é a Drenagem.

    ResponderEliminar