O assunto e os comentários que mereceu o post de António Alves, um pouco mais abaixo, impelem-me a intervir sobre o mesmo assunto. Não quero ser desmancha prazeres, que a discussão vai entretida, mas queria afirmar com clareza: DISCORDO.
Não penso que o problema seja o de criar um partido pró-regiões, seja do Norte ou não. O problema verdadeiro é o de fazer subir a "regionalização" (leia-se descentralização a sério) na ordem de prioridades da agenda política nacional.
A minha razão de fundo é a seguinte: não se trata de defender os interesses do Norte. Trata-se de defender os interesses do País.
Ora, como os últimos tempos tem demonstrado à evidência, os interesses do País tal como concebidos pelo "centro" (leia-se, centros decisórios políticos, seja partidários seja governamentais) NÃO são benéficos para a generalidade do País. Creio mesmo que tem sido prejudiciais à própria capital, pelo menos na medida em que permitiram o seu desenvolvimento desordenado na maioria dos concelhos limítrofes em detrimento da qualidade de vida na cidade, e, porventura mais importante, na medida em que aumentaram o distanciamento entre a elite nacional e a realidade sócio-económica da maioria dos cidadãos - como exemplo citaria apenas a insustentabilidade dos salários pagos nas empresas municipais e a excessiva generosidade dos salários pagos a altos dirigentes das empresas privatizadas que continuaram na órbita do Estado. Mas há mais. Nomeada e principalmente nas eficiências do Estado; basta pensar no que gastamos per capita em ensino, justiça e saúde - com a correspondente elevada carga fiscal - para os fracos resultados que vamos conseguindo em qualquer uma dessas áreas...
Por conseguinte, creio que o papel do Norte, e do Porto em particular visto que é a segunda cidade do País, seria o de assumir a liderança por uma outra forma de conceber os interesses do País, que é como quem diz o interesse nacional.
Por exemplo contrapondo projectos de obras-públicas alternativos aos que o centro vai apresentando como únicos. Alguém no Norte se lembrou de propor ao País que o aeroporto plataforma de que a TAP diz precisar, se situasse no Norte? Assim libertando a Portela para mais umas décadas, passando este a ser um aeroporto mais focalizado na cidade/metrópole que serve? (Claro que o "preço" seria o de o principal aeroporto internacional do País se situar fora da capital, mas isso é precisamente o que acontece, por exemplo, na Alemanha, ou na Holanda, ou em Itália... e seria até uma fórmula para promover algum reequilíbrio de muitas outras coisas correlacionadas...)
Ora, para promover essa outra visão do País não é necessário qualquer novo partido pró-regionalização. O que é necessário é que os líderes do "resto do País" - a tão famigerada "paisagem" da capital - assumam e protagonizem essa outra visão. E a imponham nos vários níveis de formação da agenda política nacional - partidos, autarquias, poder central, etc, etc.
Numa nota optimista, diria que, pelo menos em parte, isso até já estará a acontecer. Veja-se o que se vai passando na blogosfera. Ou a cada vez mais presente consciência de que, nomeadamente no que respeita às mega-obras-públicas pseudo-salvadoras do futuro nacional, o modelo centralizado de desenvolvimento do País, pura e simplesmente, está esgotado.
Acresce que não acredito em soluções milagrosas pensadas por qualquer núcleo restrito de iluminados. Pessoalmente creio que o essencial é LIBERTAR as pessoas, cidades e regiões para a possibilidade de encontrarem as melhores soluções. Necessariamente diferentes de umas para outras. Com a consequente possibilidade de, a prazo, se replicarem as melhores soluções e se eliminarem as piores - que é a essência da concorrência, não é verdade?
Caro Ventanias,
ResponderEliminarA existência de facções pró-desenvolvimento desconcentrado de Portugal dentro dos partidos actuais, teoricamente, também funciona... Porém a prática dos últimos 33 anos revela o contrário...
e eu digo com clareza: DISCORDO desta opiniao do Ventanias.
ResponderEliminarApoio totalmente a criação de um movimento partido regional que possa cuidar dos interesses exclusivos do norte. Olhemos para a Espanha e vemos como funciona na perfeição. As Regiões lá estão muito mais desenvolvidas.
Não tenhamos medo.
"Alguém no Norte se lembrou de propor ao País que o aeroporto plataforma de que a TAP diz precisar, se situasse no Norte?"
ResponderEliminarPassando, por agora, por cima das restantes questões levantadas pelo seu post, há uma pergunta que é mister fazer: porque raio hei-de eu (através dos meus impostos) pagar um aeroporto plataforma à TAP? Não é a TAP uma sociedade anónima em vias de ser privatizada? É! Então que pague do seu próprio bolso o aeroporto que diz precisar. Existem especialistas que dizem até que Portugal tem capacidade aeroportuária instalada em excesso. A questão está em redistribuir o tráfego pelos restantes aeroportos e não priviligiar nem a TAP nem a Portela. Quando muito Lisboa precisará dum pequeno aeroporto complementar ao actual.
Absolutamente de acordo, caro António Alves. Mas isso é também fugir ao meu ponto: a verdade é que o Governo se prepara para oferecer um aeroporto plataforma à TAP; portanto, creio, é pertinente fazer a pergunta que fiz. Ou não?
ResponderEliminarCaro José Silva,
ResponderEliminarÉ verdade que em todos os partidos há facções pró desconcentração (organismos do estado distribuídos pelo País). Mas eu falei de uma outra concepção do Estado: a descentralização, com regionalização ou não. Aí trata-se de pensar o Estado e as suas funções de outra maneira. Na minha opinião, na única que verdadeiramente interessa. Ou seja, criando as instituições para as pessoas e para os seus problemas, confiando na capacidade delas para os resolver. Portanto, anti-centros iluminados que decidem por nós.
Tentei ainda levantar uma outra ponta deste véu. Parece-me que cumpre ao Norte, e ao Porto em particular, liderar esse processo de pensar o País diferentemente e bem assim de apresentar propostas dessa outra visão ao País, que mais não seja para termos alternativas ao centro. E isso, creio, é o aspecto em que o Porto se deixou desaparecer. Os seus filhos ou se rendem ao poder central ou desistem de pensar o País. É contra isso que batalho.